sexta-feira, 14 de outubro de 2016


As viagens espaciais e o corpo humano


Susana Zanello é uma especialista de adaptação humana à vida no espaço. Por isso, esta renomada cientista compartilhou alguns de seus pontos de vista sobre a sua pesquisa, que envolve detalhes sobre exploração do espaço, futuras viagens a Marte e muito mais.

Como viagens espaciais afetam o corpo humano?

Viagens espaciais afetam o corpo humano de muitas maneiras – e muito mais do que pensamos. Tanto que existem profissionais, como Susana Zanello, que são especializados nesses efeitos. Bióloga, ela trabalha para a “Ciências da Vida” em Houston, uma instituição que apoia o trabalho da NASA. Sua missão é investigar a adaptação humana à vida no espaço, identificar os riscos envolvidos e desenvolver contramedidas para preservar a saúde dos astronautas quando eles vão em missões de exploração espacial.
Depois de muitos estudos e pesquisas, ela relacionou algumas consequências para o corpo humano que deixam bem claro que viver fora da Terra é muito mais difícil do que parece.

1. A microgravidade complica tudo

É um enorme desafio viver fora da Terra. Com a evolução, a vida tem realmente se adaptado para estar neste planeta. No espaço, um dos principais riscos vem da microgravidade – ou a ausência de gravidade.
Uma consequência é a perda de densidade mineral óssea. Lá, você simplesmente não tem que lutar constantemente contra a força da gravidade, o que fazemos de forma natural aqui na Terra. Assim, não há mais necessidade de um esqueleto para nos sustentar.
O corpo humano, então, começa a se adaptar ao ambiente reduzindo a densidade de matriz óssea, processando o cálcio de forma diferente. Isto leva a uma perda de força nos ossos, o que consequentemente aumenta o risco de fraturas quando a pessoa volta para a Terra, bem como o de desenvolvimento de pedras nos rins.

2. A radiação cósmica complica tudo

A radiação cósmica é outro risco crítico da exploração espacial. O campo magnético da Terra é uma proteção muito eficaz para evitar que a maioria das partículas de alta energia atinja a superfície do nosso planeta. Fora dos cinturões de Van Allen, ou também em outros planetas, somos constantemente bombardeados por fortes prótons solares e raios cósmicos galácticos. Há uma grande evidência de que estes podem atravessar todo o nosso corpo e inclusive afetar o nosso DNA. Assim, a longo prazo, todos os riscos associados a essas alterações, como o câncer, podem fazer um grande mal aos astronautas.

3. Viver fora do espaço prejudica a nossa visão

No início de 2000, os cientistas começaram a observar uma degradação na acuidade visual dos astronautas depois que eles passavam muito tempo na Estação Espacial Internacional. Após mais pesquisas, verificou-se um achatamento no globo ocular e um espessamento da parte posterior do olho, no início do nervo óptico.
Fora isso, cerca de 60% dos astronautas experimentam perda de visão, que inclusive pode ser irreversível em certos casos. Tanto que a visão é considerada como um risco para a saúde de alta prioridade pela NASA.

O que provoca esta perda de visão?

Os pesquisadores acreditam que isso acontece por causa de uma mudança dos fluidos dentro do corpo.
Na Terra, os líquidos tendem a ir para baixo em nossas pernas. Seu movimento e válvulas em nossas veias das pernas, então, ajudam a bombear o sangue de volta ao coração. Na microgravidade, este sistema não é mais necessário, e então o fluido é bombeado para a cabeça. Isto leva aos típicos inchaços no rosto e pés de galinha que os astronautas têm, mas, também, possivelmente, ao aumento da pressão intracraniana.
Os cientistas acreditam que, quando a pressão cerebral aumenta, a pressão por trás dos olhos é alterada, impactando a capacidade visual.

4. Viver fora da Terra afeta os humanos em um nível molecular

Há sinais fisiológicos de adaptação que podem ser observados, mas também há alguns subjacentes a um nível molecular. Os genes podem ser expressos de forma diferente no espaço, levando a mudanças fisiológicas específicas.
Os estudos de Susana Zanello procuram responder a essas perguntas. Mas, novamente, há uma série de limitações para a realização de experimentos no espaço.
Comumente, os astronautas vivem lá por seis meses, e agora dois dos voluntários da pesquisa estão participando de uma missão de um ano. Mas quando estamos falando sobre ir para outros destinos, como Marte, isso significa missões muito mais longas.
Para saber o que poderia acontecer em tais viagens, Susana Zanello afirma que teríamos que realizar experiências não só na Estação Espacial, mas também em plataformas que simulem, em certa medida, as condições do espaço.

5. O psicológico não ajuda

Uma missão até Marte, por exemplo, é estimada em três anos. O primeiro risco, então, é psicológico. Para medi-lo, os cientistas teriam que levar em conta a duração, o afastamento, o isolamento, o confinamento com um número limitado de pessoas, o estresse de uma alta carga de trabalho e a pressão de ser bem sucedido.
Agora, quando um astronauta chega em Marte, há uma coisa boa: você tem gravidade parcial. Os seus ossos serão imediatamente estimulados e isso vai reduzir a taxa de perda de densidade. Porém, mais uma vez, astronautas serão confrontados com os riscos da radiação de alta energia, para não mencionar um clima severo, a grande quantidade de poeira e a necessidade de uma boa nutrição, entre muitos outros fatores.
6. Os outros planetas não têm dias de 24 horas
Os pesquisadores estão começando a considerar nossa chegada a objetos mais distantes, como o satélite de Júpiter, Europa, onde foi encontrado água. Mas isso é muito mais longe que Marte! Ou seja… É praticamente uma missão impossível com a tecnologia que temos disponível hoje.
Além disso, acredite ou não, apesar de Marte parece inóspito, ele é um planeta completamente amigável em comparação com os outros que conhecemos.
O seu tamanho e padrão de rotação são semelhantes aos da Terra. Portanto, um dia é de quase 24 horas de duração. E isso é uma grande coisa para os seres humanos, pois a vida evoluiu para caber em tais condições. Viver em um planeta com um dia de 10 horas, por exemplo, provocaria muitos outros efeitos adversos ao corpo.

Estamos muito adaptados às condições da Terra para sobreviver em outro lugar no espaço?

Experiências mostram que somos capazes de nos adaptar a condições bastante adversas. Se algum dia você já assistiu ao programa “Pelados e Largados”, sabe bem que é verdade – pelo menos em certa medida.
Mas também precisamos considerar que, em novos ambientes, existem riscos que desconhecemos. A coisa mais importante é definir com muita precisão os níveis aceitáveis de tais riscos.
Além disso, não podemos ignorar a ganância humana para a exploração de territórios extraterrestres. Mesmo com um alto nível de risco, eu aposto que sempre haverá alguém pronto para aceitar o desafio. 

Asgardia







Um grupo de cientistas lançou o que eles dizem ser um novo estado-nação pacifista
 no espaço, chamado Asgardia.
De acordo com o website do estado-nação, ele “se tornará um lugar em órbita
 que é verdadeiramente uma ‘terra de ninguém'”.
O grupo pretende lançar seu primeiro satélite no final do próximo ano.
 Também espera um dia ser reconhecido pela ONU.
Porém, alguns especialistas têm dúvidas sobre a viabilidade do plano,
 levando em conta que as leis internacionais proíbem reivindicações de soberania nacionais no espaço exterior.

Projeto ousado

O projeto é dirigido pelo International Aerospace Research Center (ou Centro
 Internacional de Pesquisa Aeroespacial) com sede em Viena, na Áustria, 
uma empresa privada fundada pelo cientista russo e empresário Dr. Igor 
Ashurbeiyli.
A nova nação, cujo nome deriva de uma cidade no céu da mitologia nórdica,
 clama oferecer uma plataforma independente, livre do constrangimento das
 leis de um país terrestre.
O grupo diz que vai abrir novas oportunidades no espaço para o comércio, ciência 
e povos de todos os países do mundo.

Cidadãos de um lugar onde nunca vão

Mais de 50.000 pessoas já se inscreveram online para fazer parte do estado-nação.
Os “cidadãos” de Asgardia, que serão examinados antes da admissão, devem
 obter passaportes, conforme explica à BBC Lena de Winne, membro sênior
 da equipe do projeto, que trabalhou para a Agência Espacial Europeia por 15 anos.
“É claro que é difícil entender o conceito de como você pode ser um cidadão de
 algo em que você não pode colocar o pé”, disse. “Mas eu sou uma cidadã
 dos Países Baixos e agora estou em Paris. Não há nada de incomum nisso,
 se você é um cidadão de um país onde você não vive e onde não vai”.
Competições estão sendo realizadas para decidir o hino nacional e o design
 da bandeira de Asgardia.

Problemas

Segundo o professor Sa’id Mosteshar, diretor do Instituto de Política Espacial
 e Direito de Londres, na Inglaterra, é difícil que Asgardia seja reconhecida pelo
 direito internacional.
“O Tratado do Espaço Exterior aceito por toda a gente diz muito claramente
 que nenhuma parte do espaço exterior pode ser apropriada por qualquer
 estado”, disse à BBC.
Como Asgardia não será associada a um território autônomo, com os seus
 “cidadãos” permanecendo em terra, suas perspectivas para o reconhecimento
 são escassas.

Aspectos econômicos e jurídicos

O projeto está sendo financiado pessoalmente pelo Dr. Ashurbeiyli no momento,
 mas o grupo anunciou que vai procurar crowdfunding.
Este aspecto do crowdfunding sugere que os fundadores do grupo “não têm
 qualquer plano de negócios real, crível”, disse o professor Mosteshar.
Sobre os aspectos jurídicos, o Dr. Ashurbeiyli afirmou que quer criar uma “nova
 realidade jurídica no espaço”.
  • “O projeto é a criação de um novo quadro para a posse e nacionalidade no
  •  espaço, que irá se adaptar as leis do espaço exterior atuais que regem a
  •  responsabilidade, a propriedade privada e as empresas para que sejam
  •  adequadas à finalidade na nova era da exploração espacial”, argumentou
  •  em um comunicado.